O que disse Patricia Arquette ontem, na
entrega dos Oscars, ecoa com a queixa de outras mulheres que começam
a fazer públicas denúncias sobre o tratamento dado pela indústria
do cinema à atrizes, produtoras, diretoras e outras profissionais da
sétima arte. A lista é longa: Cate Blanchett, Ellen Page, Geena
Davis, Zoe Saldanha, Olivia Wilde, Jennifer Garner, Mindy Kaling,
Lena Dunham, Eva Mendes, Kerry Washington já declararam que não têm
o mesmo tratamento dados a sus companheiros do sexo masculino. O que
querem? Igualdade de salários, não ser tratadas como objeto sexual,
mais filmes com mulheres protagonistas, o reconhecimento do seu
trabalho porque são competentes. Os números evidenciam essas
diferenças. Um pequeno resumo: na história dos Oscars, apenas
quatro mulheres foram nominadas a melhor diretora e só uma ganhou o
prêmio: Kathryn Bigelow, por Guerra ao Terror, em 2008 (um filme de
ação, o que é mais incrível ainda). Em Cannes, três mulheres
levaram a Palma de Ouro, em duas ocasiões: Jane Campion por O Piano
(1993) e Adèle Exarchopoulos junto com Léa Seydoux por Azul é a
Cor mais Quente (2013).
Alguém poderia argumentar que há
menos mulheres porque elas não se interessam em ser diretoras e
produtoras, aceitam papéis que apenas ressaltam sua sexualidade ou
não têm as características (atribuídas aos homens) para
sobressair numa indústria tão competitiva. Seriam passivas, por
exemplo. Será esse o problema ou vamos ao começo de tudo? Quando
uma menina diz em casa que quer ser diretora de cinema, provavelmente
pode ouvir que isso é coisa de menino e que debe tentar outra
profissão porque exige muita firmeza, agressividade e por aí vai
(meninas não devem ser agressivas...). Se consegue sobreviver a esse
discurso e insiste em cursar a faculdade de cinema, se enfrenta ao
mesmo problema: “Diretora não. Melhor deixar essa função pro
seus companheiros de classe. É muito pesado para uma garota. Você é
bonitinha, pode conseguir algum sucesso como atriz” e blá, blá,
blá... Se ainda insistir, pode que apareça outra Jane Campion,
outra Kathryn Bigelow, uma Isabel Coixet, uma Icíar Bollaín, Agnès
Varda, Sofia Coppola, Chantal Akerman... Não são muitas em quem
buscar inspiração. O bom é que elas tão botando a boca no mundo e
há esperança de que as diferenças diminuam com as novas gerações
de cineastas. No entanto, o caminho a percorrer é longo e a
indústria do cinema parece ainda dizer às mulheres: o lugar de
vocês continua sendo debaixo das Cinquentas Sombras de Grey.